por Beatriz Caires
Pela primeira vez desde janeiro de 2016 a moeda americana ultrapassou R$ 4 e alterou diversos setores no Brasil. Os fatores que levaram à disparada são externos e internos. E a princípio, a perspectiva dos economistas é pessimista.
Ainda que seja sabido que o dólar suba e desça todos os dias, muitos não sabem ao certo a ligação da moeda com o real, os motivos e nem os impactos dessas alterações de valores no próprio cotidiano.
Após a Segunda Guerra Mundial, o dólar tornou-se referencial monetário mundial quando os Estados Unidos, a principal potência econômica desde então, financiaram a reconstrução da Europa e do Japão.
Todos os dias o Banco Central divulga a média da taxa de câmbio adotada -relação de preço entre duas economias – e, no Brasil, são três tipos de dólar: comercial, cotação utilizada para transações na Bolsa de Valores e entre empresas e o governo no exterior; turismo, que não é negociado de forma jurídica, mas para uso pessoal e de consumo, com preço maior por conter tarifas, impostos e o lucro das casas de câmbio, e dólar paralelo, vendido por entidades ou pessoas sem autorização para negociar a moeda.
São diversos os fatores que podem influenciar o câmbio. No entanto, a disputa comercial entre os EUA e China é o maior impulsor externo para a recente disparada do dólar. Desde o início de julho, as duas maiores economias mundiais adotaram mais tarifas sobre produtos um do outro. O valor já soma cerca de 100 bilhões de dólares em bens. Ainda que a tensão esteja entre as duas potências, as cadeias de produção e consumo estão interligadas e a disputa já afeta a economia de diversos países ao redor do globo.
Basicamente, os juros maiores nos EUA atraem os dólares que estão em outros países, inclusive no Brasil, e a falta dessas moedas encarece sua cotação. Dessa forma, o aumento nos custos de exportações diminuiu bruscamente o crescimento econômico e fatores nacionais, como o déficit externo e a incerteza política, tiveram participação na alta.
De acordo com o economista e consultor Fabio Silveira, sócio-diretor da Macrosector desde o ano passado os títulos públicos estão pagando juros mais altos e as contas públicas brasileiras estão em déficit fiscal há quase três anos. “O cenário causa receio por parte de investidores internacionais sobre um potencial risco. Não é o caso do Brasil ainda, mas muitos governos de países emergentes emitem mais moedas para cobrir rombos e acabam gerando mais inflação e distorção de preços. E ao não apresentarem mudanças, os títulos desses países acabam rejeitados no mercado internacional. Ainda estamos longe, mas é necessário ter cuidado.”
Para Silveira, o momento econômico tem ligação direta com a situação fiscal: “Querendo ou não, essa desconfiança dos investidores sobre o Brasil, impulsiona o dólar para cima pois representa riscos e leva alguns atores do mercado de câmbio a saírem do Brasil e levarem os dólares. E, assim, esse fator adicional leva à alta do juros e do dólar.” afirma.
Apesar de algumas rejeições a títulos nacionais, a situação não é nem de longe tão dramática quanto a de países vizinhos, como a Argentina, cuja crise cambial fez o peso perder metade de seu valor desde janeiro. Ainda que a situação tenha piorado nos últimos anos no Brasil, os fundamentos da economia brasileira são melhores que os dos outros países emergentes. A inflação permanece razoavelmente baixa e existe um dos maiores superávits comerciais do mundo. O baixo percentual de dívida pública atrelada ao dólar e os U$ 381 bilhões de reservas internacionais – comparado aos U$ 50 bilhões da Argentina – fazem com que o Brasil esteja menos vulnerável.
O principal agente interno para a alta é o período eleitoral e o quadro imprevisível temido por investidores. De acordo com o auditor de instituições financeiras da EY,Lucas Adam, os economistas evitam previsões meio as atuais conjunturas. “ É arriscado demais tentar prever qualquer coisa porque vai depender muito de quem ganhar as eleições e as propostas econômicas desse candidato. Se são mais progressistas ou conservadores, favoráveis a reformas ou não, enfim, tudo isso afeta muito, mas antes dessa decisão é tudo muito imprevisível.” Adam acredita que mesmo com resultados eleitorais concretos, o processo será gradual “Quem assumir o poder ainda terá cerca de cem dias para adaptação, ou seja, lá para março ou abril que vai ser possível ter alguma ideia de como o mercado irá se desenrolar. Até lá, não é confortável para ninguém investir em um país que possa ter câmbios drásticos”, diz.
A maior cotação de fechamento já registrada foi em 21 de janeiro de 2016, quando o dólar americano encerrou o dia a R$ 4,16. Já a máxima de negociação foi verificada em 24 de setembro de 2015 a R$ 4,24.
Fonte: Valor Pro
Ainda que o dólar alto prejudique grande parte da população por aumentar os preços de importados, inclusive alimentos, a produção nacional se fortalece, assim como o turismo interno e as exportações, quando produtos brasileiros ficam mais baratos e competitivos no exterior.